Clean Girl: Quando a Estética Ignora a Beleza Negra
Reflexões sobre como a tendência Clean Girl reforça padrões eurocêntricos e exclui corpos negros — e por que precisamos questionar o que é considerado 'aspiracional'.
Hoje quero falar sobre algo que me incomoda há um tempo e que, acredito, também ressoa com muitas pessoas negras: a estética Clean Girl.
Você sabe, aquela estética que virou tendência nas redes sociais, principalmente no TikTok — pele iluminada, cabelo sempre alinhado e estupidamente liso, uma maquiagem natural e um estilo de vida minimalista e equilibrado. Parece inofensivo, né? Mas a verdade é que essa estética nunca foi pensada para corpos negros.
Na verdade, poucas aesthetic levam em conta pessoas negras e suas realidades. A maioria dessas tendências nasce de um ideal eurocêntrico e ignora completamente características negras. O feed perfeito do Pinterest ou do TikTok sempre mostra o mesmo perfil: pele clara, cabelos lisos ou ondulados, sobrancelhas naturalmente finas e um "ar de frescor" que, na prática, só se encaixa em corpos brancos. Quem foge desse molde precisa se esforçar o triplo para ser minimamente aceito.
E quando falamos das influenciadoras que popularizam esses padrões, o recorte racial fica ainda mais nítido.
Manu Cit e Malu Borges, por exemplo, são algumas das referências nesse estilo. Enquanto isso, influenciadoras negras — que existem, criam conteúdo e inovam tanto quanto — são muito menos vistas e valorizadas. E isso não acontece só no quesito estética. Seja no lifestyle, na moda, na beleza ou em qualquer outro nicho, o algoritmo e a indústria como um todo favorecem majoritariamente influenciadoras brancas.
A estética Clean Girl também vende um estilo de vida baseado em privilégios.
Rotinas de skincare caras, alimentação balanceada e uma aura de tranquilidade que ignora as desigualdades sociais. É fácil ter um "glow natural" quando se tem acesso a bons dermatologistas, produtos de qualidade e uma vida sem tantas preocupações financeiras.
Mas e quem não tem?
Não é errado querer se cuidar ou gostar de uma estética mais minimalista. Mas é importante questionar por que certos padrões são vistos como "aspiracionais" enquanto outros são marginalizados. Por que cabelos crespos ou trançados não são considerados "clean"? Por que o "brilho natural" da pele negra é visto como excesso de oleosidade, enquanto o da pele branca é fresh e saudável?
A beleza negra sempre foi reinventada e ressignificada dentro dos nossos próprios espaços.
Por isso, em vez de tentar se encaixar em um ideal que não nos inclui, que tal celebrar as nossas próprias referências? Nossa estética não precisa ser validada por padrões que nunca nos contemplaram.




Então, se tem algo que quero deixar aqui hoje, é esse convite: questionem.
O que parece clean para quem? O que é "natural" de verdade? O que é saudável para você? Beleza não precisa ter um molde fixo — e se for para seguir uma tendência, que seja a de nos enxergar por inteiro, do jeito que somos.
Segue uma lista de influencers negros!
Sophia Balotelli - perfil de estudos e lifestyle da rotina de uma concurseira, universitária e CLT
Carina Soares - influencer assumidamente sáfica de lifestyle, beleza, moda e +
Digão Roque - influencer de livros
Jessy Conrado - influencer da moda streetwear, beleza e cultura
Laysla Tiller - influencer de moda, música, cultura preta e locs
Karol Dias - influencer de leitura crítica e escrita
Karol Gomes - jornalista especialista em cultura pop
Tyrone Joel - influencer de skincare e lifestyle
Milena Pinheiro - influencer lifestyle e atriz
Karol Adolfo - euzinha, falando de livros, da vida, bem de tudo!
E você, já se sentiu excluído ou excluída por padrões estéticos que não te representam? Como lida com isso?
Artigo absurdamente real! E infelizmente, isso é muito ligado também á "feminilidade".
Mulheres negras, principalmente, não são vistas como delicadas o suficiente para servirem de inspiração em nichos ligados à estética, irônico e triste né? Levei um bom tempo para perceber a estrutura racista de tudo isso. É como você disse "Por que o "brilho natural" da pele negra é visto como excesso de oleosidade, enquanto o da pele branca é fresh e saudável?".
Muito incrível cada palavra, Karol!!
amei o texto!!!