A Amizade Mora na Gratuidade
Um fim de semana, um retiro e o lembrete de que ser acolhida é mais sobre presença do que sobre palavras
Começar o mês com um retiro em outro estado pode parecer uma escapada clichê de quem quer espairecer, mas dessa vez foi diferente. Talvez um dos retiros mais bonitos e marcantes da minha vida. O tema já entregava muito: uma passagem do livro de João que dizia "Eu vos chamo amigos". À primeira vista, simples. Mas eu saí de lá transformada.
Nunca tinha ido a São Paulo. O mais longe que fui foi Aparecida do Norte, em peregrinações. E olha, com todo respeito aos paulistas que amo: achei a cidade meio... cinza? Mas com seu devido charme! Não me apaixonei de cara, não, mas meus amigos paulistas mudaram tudo. Até o "bom dia" que não era dado (o que, como boa mineira quase carioca, considero quase uma heresia) virou piada interna carinhosa. Gente, o que custa um "bom dia" com sorriso? Mas tudo bem, perdoei.
Fiquei quatro dias. Saí do Rio durante a noite e cheguei lá pelas 5 da manhã. Fui recebida por uma família que só conhecia pelas filhas, a mais velha é muito minha amiga, e mesmo assim fui acolhida com um carinho que me desconcertou. Teve café, teve risada, teve até Just Dance com a música do Príncipe Ali de Aladdin (lógico que fui eu quem escolheu essa).
Mas o que mais me tocou no retiro foi uma frase dita numa das partilhas: "A amizade é filha da gratuidade, e vive da preferência e da reciprocidade". Que tapa na cara. Fiquei pensando: o que são as relações hoje em dia? No meio universitário então, a gente já entra esperando o famoso colega que te pergunta de cinco em cinco minutos qual é a próxima prova, mas não lembra do seu nome. Aquele que é sua sombra pra pedir resumo e resposta, mas que na hora do trabalho em grupo desaparece e volta só pra botar o nome no slide.
E nesses quatro dias em São Paulo eu fui atravessada por um sentimento puro, sem cobrança: a gratuidade. Estar ali, ser acolhida, escutada, fazer parte. Senti que ninguém queria nada de mim além da minha presença. E isso me preencheu de um jeito que poucas coisas preenchem.
Aquela companhia era diferente. Gente de todos os cantos do Brasil (e do mundo), muitos que me veem de vez em quando, outros que nem me conheciam ainda. E mesmo assim, um cuidado com a minha liberdade, com o meu jeito, com quem eu sou. Esse cuidado silencioso, sem pressa, sem performar. Eu fiquei com os olhos brilhando em vários momentos e um sorriso meio bobo no rosto, mas não tem como reagir diferente.
Tô escrevendo isso enquanto releio algumas coisas no meu diário virtual do Penzu. E me peguei rindo sozinha. Daí fiz um pequeno dump lá no Instagram, joguei alguns vídeos, sem pensar muito, sem roteiro. Porque nem sempre minha cabeça tá com um triplex de reflexões filosóficas. Às vezes, é só um gesto simples pra deixar o coração quentinho.
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Esse mês também marca a nova fase do meu livro Ouro e Cinzas, que já tem data de lançamento prevista! Se quiser acompanhar de perto:
adorei o texto 💞
temos fama de frieza em sp por conta da velocidade das coisas, as lotações em transporte deixa todo mundo ranzinza, a violência aumentou e sentimos que não dá pra confiar em ninguém. que bom que você teve uma boa experiência apesar disso 🤍 se vier de novo, recomendo:
- Gato Pingado (Pinheiros) café com gatinho (os gatos têm folga toda terça, nos outros dias pode visitar)
- Sala São Paulo (na estação da Luz), todo domingo tem concerto gratuito lá pelas 10:45, tem que pegar ingresso no site
essa ideia da amizade como filha da gratuidade me deixou muito reflexiva, karol. amei o texto!! vi que voce indicou o novo álbum da alcione. eu ouvi uma música na novela garota do momento e gostei demais